terça-feira, 6 de julho de 2010


Era inverno no Rio. Chovia muito quando embarquei e com o resfriado, dormi sem notar direito o meu achado. Acabei mais de mês só com a pequena impressão da folheada que dei diante do guichê, fui ver do que se tratava a brochura já prestes a esquecê-la, meio que dando ombros, mal me perguntando o que se pode achar sob um balcão de rodoviária, soprando cansaço pelas tarefas que contribuem para que eu tenha uma curiosidade tão tardia. Achava que não seria mais que um diário ou um caderno de notas. Era um caderno sem estampa, azul. Tinha muitas folhas soltas e um contínuo palimpsesto de lápis. Meu despeito pela lixada caligrafia sumiu quando refleti na solitária nota da contracapa:


Sentir d’um presságio o caminho
Aberto nas várzeas do sonho –
Triunfo de ave sem ninho.

11/1/2005


Um amigo saudoso só escrevia a lápis. Respondendo-me por que, disse que para ele era “melhor malear o barro que ferir o mármore”; bela tentativa de tirar o barro debaixo das unhas, pensei. Mas lendo o manuscrito dessa brochura ganhei uma sensação mais jus com o sentimento do amigo. A caligrafia lixada induz uma veia impercebida, que a representação industrial da escrita põe em repouso – como um quadro austero é mais destacado pelo estimulo que dá para a retina em relação ao desinteresse visual que os ângulos da urbanidade deixa. Foi com esse fato que teimei mais quando li as primeiras páginas desse caderno. Até que a sombra da trama descrita me deu mais para perceber.

Em letras garrafais (sempre a lápis) o título pomposo -













O CAPTIVO DE ANTARA
Crônicas e Presságios de uma alma jovem







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