segunda-feira, 23 de agosto de 2010

***





Avena Blues

Ecoa na barragem teu tropel vaporoso
Como de pântano, luz – pérola assim lamacenta;
Brilha do orco da senzala-voz, lamento assombroso
Como d'um talho de faca, lanho que arde e que aquenta.
Canta o fado da saudade. Tudo à volta é espinho aquoso –
Fundo cava, fundo cala, pois é canção: não se ausenta;
Muda as formas da maldade, rasga sulcos no meu rosto
Pra que a fome de minh'alma seja o sal que me alimenta.
É suor, é vida avante – sabe a sangue, sabe a lágrima,
Tua voz ecoa errante, verbo d'alma feita magma
Canta amor e adeus pulsando juntos num vagão de trem.
Quando ecoar canção esse amargo alumbramento,
De rasgar meu coração será teu meu sentimento
E contigo cantarei when all your love is in vain.


Santos, 8 de janeiro de 2004








***